De manhã na grande praça

Quando pego o ônibus para ir ao trabalho, acabo passando por uma praça. Ali, em uma das esquinas, geralmente tem um senhor que chuto ter uns 60 anos (ou mais) que fica de pé virado para rua movendo-se como um maestro.

Já notei que não usa fones e que também não há rádio que toque músicas para orientar seus movimentos. Ele sempre está sozinho. O cenho franzido e os olhos fechados denunciam sua concentração, sempre com um ar inspirado. Quem passa o olha com muita curiosidade ou apenas estranha.

Como será? Como será que ele sente o som dos carros? Como ele interpreta a buzina da moto? Qual o ritmo do motor do caminhão? Qual é o tom dos sinos das bicicletas? O movimento dos braços segue o freio dos ônibus, e seu corpo interpreta a verdadeira sinfonia urbana apreciada talvez apenas por aquele que a maioria chama como louco. No fundo, quem sabe, sejam eles os sábios por achar a beleza nas menores coisas do cotidiano e somos nós os loucos por considerar o nosso dia-a-dia ruído.

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