- Você está bem?

- Neutra... E você?

- Estou bem... O que significa estar neutra?

- Significa que não estou nem feliz e nem triste. Estou no meio disso.

- Complexo.

- Não, na verdade é simples. Eu não estou empolgada para nada mas não é como se estivesse chorando por alguma coisa.

- Isso soa meio... morto.

- Talvez... mas eu acho que é assim que você se sente quando passa por uma situação ruim e então você entende essa situação e daí aos poucos você tenta se recuperar.

- Então você estava mal antes?

- Estava sim.

- Que pena...

- ...

- ...

- Eu, na verdade, acho que precisava falar com você. Não quero mais ficar neutra, quero ficar bem.

- O que seria?

- É que... Eu tenho medo de te contar. Nem é porque eu penso que você vai me fazer algum mal, é mais porque eu acho que você não vai ligar tanto de saber.

- E qual o problema?

- A sua indiferença me machuca. E eu também não queria te preocupar com mais essa coisa, sua vida não deve ser mais fácil que a minha.

- Machuca?

- Sim, porque é uma coisa que eu me importo muito. Você, por não se importar, me quebra.

- Mas se você falar vai te ajudar, não vai?

- Eu não sei também, há a possibilidade de estar errada.

- Podemos tentar, eu posso te ouvir.

- Eu tenho medo.

- De eu não me importar?

- É que não é só isso. Também tenho medo de te perder, da sua reação, do que vai pensar... Na verdade eu já sei sua resposta, é meio insistência do cérebro querer te falar, eu não sei explicar... São coisas entaladas em mim e precisava falar para você porque falar para qualquer outra pessoa não adiantou em nada então talvez se eu falasse para você eu conseguiria me poupar, entende?

- Fale.

- Mas, e se...

- Vai ficar tudo bem.

- Você já sabe o que é.

- E o que é?

- Tudo bem, é que eu... Eu... Eu sinto a sua falta. É uma saudade que não é normal... Dói... Eu... Você... Queria poder falar com você todos os dias, queria contar do meu dia e queria ouvir sobre o seu. Queria saber o que te deixou feliz hoje e o que te aborreceu. Queria que você tivesse essa vontade também... Queria que você quisesse falar comigo. Meu silêncio na verdade é uma luta de autocontrole enquanto que o seu é apenas a indiferença.

- Eu não sabia...

- Eu sei... Não era para você saber. Mas estou tentando, sabe? Não pense que eu estou falando tudo isso porque quero alguma coisa com você. Tente ouvir como um desabafo, ouvir na amizade. Enfim... Eu realmente estou tentando te ver como eu vejo as outras pessoas mas é muito difícil. Na real eu nem amo mais você... Meu peito já não queima como antes e meu estômago não embrulha. Já matei muito de você que ficava dentro de mim só que mesmo assim... Mesmo depois de tanto tempo eu ainda me importo muito com você. Queria saber como está e sua opinião sobre as coisas da vida.

- Entendo...

- Foi o que eu disse... Talvez seja só a persistência da memória. Mas eu sei que na verdade a gente não ia dar certo.

- Por quê?

- Porque você não quer, porque talvez eu também não quisesse tanto assim, porque eu não te encantei, não sou o que você procura, não estamos na mesma página do livro, porque talvez você já goste de outra pessoa... Não sei, aí é você quem me diz. Mas eu aposto na primeira opção, ela é a mais honesta. Todas as outras levariam a discussões que convergiriam para ela de qualquer jeito.

- Você tem toda a razão.

- É, eu sei... por isso que ainda dói... Um pouco. Eu sei que ainda quero você e sei que quero o seu carinho. Mas também sei que sou teimosa de mais e se você falar agora que tudo bem, eu não ia aceitar porque eu quero alguém que me trate como Coca-Cola e você só ia conseguir me ver como Pepsi.

- Hahaha.

- Gosto muito do seu sorriso, sabia? Ai... Desculpa, eu não queria que fosse assim. Quando percebi que gostava de você na verdade entrei em pânico. Gostar de alguém nos torna muito vulneráveis, eu sentia medo de quebrar. Então eu comecei a me afundar, a me fechar e me esconder. Agia diferente do normal, maquiava o que eu sentia para ninguém ver... Nunca entendi porquê ninguém podia saber... Comecei a me reprimir ao invés de tentar resolver logo, tentava me enganar... Perceba a ironia, o que tentei fugir se tornou real.

- Não precisa se desculpar, você não fez nada de errado.

- Bom... de qualquer maneira, agora é tarde... Já está passando... Só que eu fico incomodada que você ainda me assombra, que você ainda vive dentro de mim. Não sei se haverá o dia que você vai morrer para mim, mas se tiver, queria que fosse agora. Eu... Na verdade... Enfim... Não sei o que fazer...

- Eu não sei como te ajudar.

- Tudo bem, ninguém sabe... Essas coisas acho que é só com o tempo mesmo... Sabe, quando fico sozinha eu ainda penso em você. Penso no que responderia quando te falasse essas coisas, sua opinião, o que pensaria de fato, na cara que ia fazer... Antes pensar em você era bom, ficava feliz e meu peito esquentava, queria te abraçar, fazer carinho. Agora não... O quentinho virou tortura onde eu só consigo pensar "chega, por favor". Eu não quero mais querer você. Eu não quero mais me torturar por você. Mas, sabe? Talvez o que dói mesmo não é gostar de você, talvez o que dói é não poder gostar.

- Como assim?

- Assim, poxa. Querer e não tocar. Gostar e se machucar. Seria muito bonito se eu conseguisse te amar e amar sem esperar que você retribuísse qualquer carinho mas eu não consegui. Eu tentei por um tempo, foi muito difícil. Preferi desistir e me afastar. Dói muito, sabia? Dói quando você se importa com alguém mas esse alguém não liga tanto para você ou só finge que liga.

- Entendo... Difícil mesmo.

- Depois eu fiquei pensando, talvez eu só não queria ficar sozinha e como você se tornou uma possibilidade, coloquei em você todas as minhas expectativas. Eu não sei... Queria que alguém me dissesse o que fazer. Só esperar está me fazendo perder tempo.

- Você vai ficar bem.

- Eu sei... É o que todo mundo diz. Já estou de saco cheio desses conselhos genéricos. Eles não ajudam em nada, te mantém no mesmo lugar e não são uma solução. Como é frustrante não saber o que fazer. Bom... Acho que era isso que eu tinha para falar por hora.

- Um monte de coisa complexa.

- Não, na verdade é bem simples. Eu gosto muito de você, você não gosta tanto de mim e agora estou tentando me reconstruir sem que eu tenha que te sacrificar. Como disse, eu não quero te perder... Apesar de que eu nem sei se temos mesmo uma relação de amizade.

- Temos sim.

- É... Eu notei...

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